A trajetória de Jean Valjean, na obra “Os miseráveis”, que
começamos a ver na postagem anterior, nos serve como uma profunda discussão da
realidade pós-Revolução Industrial. Na sua crítica sobre a “mecanização” das
relações humanas desse momento (século XIX (19)), alguns personagens
representam aspectos para os quais devemos atentar. Bora lá que esse é o
assunto de hoje:
“OS MISERÁVEIS”, DE VICTOR HUGO: O VAZIO BURGUÊS DEFININDO AS
RELAÇOES HUMANAS – PARTE 2
A OPOSIÇÃO ENTRE O “SER” E A “ORDEM”.
Como eu disse antes, o protagonista da obra (Jean Valjean) foi preso por
roubar um pão, o qual ele daria de comer aos seus irmãos menores e aum sobrinho.
Foi condenado a cinco anos de “galés” (que significa TRABALHO FORÇADO), pena
que foi depois aumentada para 19 anos. Veja um trecho em que Victor Hugo
descreve o que ocorreu a Valjean :
“Chegou um
Inverno muito rigoroso, em que Jean Valjean não encontrou o que fazer. Ficou
sem trabalho e a família sem pão. Sete criancinhas sem pão!
Num
domingo à noite, preparava-se Maubert Isabeau, padeiro com estabelecimento no
largo da igreja, em Taverolles, para se deitar, quando ouviu uma violenta
pancada na vidraça gradeada da sua loja. Correu imediatamente para ali e chegou
a tempo de ver um braço passando por uma abertura feita no vidro com um murro,
pegar num pão e levá-lo. Isabeau saiu apressadamente e correu atrás do ladrão,
que fugia como lhe permitiam as pernas, conseguindo alcançá-lo.
O ladrão
largara o pão no caminho durante a corrida, mas tinha ainda o braço
ensanguentado. Era Jean Valjean.
Passava-se
isto em 1795.
Jean Valjean foi levado aos tribunais daquele
tempo pelo crime de roubo noturno com arrombamento, praticado numa casa
habitada. Valjean foi considerado criminoso. Os termos do código eram formais.
Existem na nossa civilização momentos terríveis: os momentos em que a
penalidade é descarregada sobre um culpado. Que lúgubre momento aquele em que a
sociedade se desvia e consuma o irreparável desamparo de uma criatura racional!
Jean Valjean foi condenado a cinco anos de galés. A propriedade invadida pelo
seu braço, e o pão tomado por sua mão, valiam mais do que ele e seus irmãos.
Não era o crime em si, mas sim o ato de romper a ordem e atentar contra a
propriedade. Valjean pagará caro por isso! Pra sempre”
Abaixo, há uma cena de um dos filmes feitos desse livro (é
um musical, na verdade). Nessa cena (cerca de um minuto de duração) há um
diálogo entre Valjean e o inspetor Javert (o policial obcecado pela ordem) no
momento em que Valjean ganha liberdade condicional após 19 anos preso. Assista
a esse trechinho e PRESTE MUITA ATENÇÃO NAS LEGENDAS DO DIÁLOGO.
Já o inspetor Javert é o obcecado policial que colocava
a ordem e a lei acima de tudo. Era o resumo perfeito da sociedade vazia de
emoções que Victor Hugo tanto criticava e que simbolizava o século XIX.
Assim Victor Hugo descreveu Javert:
“ Era o inspetor de polícia
Javert. Tinha nariz chato, lábios finos. Quando ria, o que era raro, parecia um
tigre. Tinha um apego obcecado à lei. Mostrava-se implacável no seu dever de
policial. Seria capaz de denunciar o próprio pai ou a mãe”.
Analisando essa obra, percebemos que Valjean e Javert
representam duas sociedades, dois ideais historicamente construídos e que
entram em conflito nesse século XIX: um, é o povo oprimido, que erra por causa
de sua vida atribulada, mas sempre movido por bons sentimentos, como fica claro
em várias passagens do livro. Ele representa uma sociedade que não existe mais
– uma sociedade onde há SENTIMENTOS. O outro, representa a sociedade burguesa
contemporânea, ordeira, onde a emoção não tem vez e quem erra não merece
segunda chance. Uma sociedade onde a burguesia sempre tem razão e a razão deve servir para o progresso, não
para as pessoas.
Durante o mesmo período que Victor Hugo entendia essa
situação, no Brasil rolava algo muito parecido. Nosso país também se inseria
nessa construção de uma sociedade que privilegiava a “mecanização do ser
humano” e dava pouco espaço aos sentimentos. Na Faculdade de Direito de São
Paulo (atual Curso de Direito do Largo São Francisco, da USP), criado pro D.
Pedro I em 1824, professores ensinavam aos futuros advogados que:
“deixar
as emoções livres é o ato responsável pelas maiores tragédias e desrespeitos às
ordens. Portanto, é de maior necessidade que sejamos esclarecidos pela Razão
rigorosa, a fim de combatermos os sentimentos. Essa é a vossa missão, futuros
líderes do Brasil” (ensinamento do professor Balthazar da Silva
Lisboa, Faculdade de Direito de São Paulo, em 1840, citado
no artigo “O Curso Jurídico Paulistano e a origem do ultrarromantimso de
Álvares de Azevedo”, escrito pelo seu fofo e supimposo professor de História
(esse gordo aqui que vos fala) e publicado no livro HISTÓRIA DO ESTADO DE
SÃO PAULO, Volume 1. )
A maior parte dos alunos dessa faculdade se tornavam
políticos no Brasil do século XIX. Famosos escritores brasileiros do período estudaram
lá e seguiam essa orientação. Foi o caso do poeta ÁLVARES DE AZEVEDO. De acordo
com ele:
“A poesia deve servir como estudo dos
sentimentos para que possamos controlá-los após conhecê-los em sua plenitude”. (anotações
de aula de Álvares de Azevedo quando era aluno na Faculdade de Direito de São
Paulo, entre 1848 e 1852. Citado no
artigo “O Curso Jurídico Paulistano e a origem do ultrarromantimso de Álvares
de Azevedo”, escrito pelo seu fofo e supimposo professor de História (esse
gordo aqui que vos fala) e publicado no livro HISTÓRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO,
Volume 1. )
Manuel Antônio Álvares de Azevedo, poeta
brasileiro e aluno da faculdade de Direito de SP no século XIX. Ao contrário do
escritor francês Victor Hugo, que criticava essa sociedade contemporânea
mecanizada, o nosso Álvares de Azevedo curtia a coisa e queria contribuir com
sua inteligência para o pronto estabelecimento desse tipo de sociedade.
Sentiram a profundidade do problema? A construção dos
personagens da obra de Victor Hugo, ao ser feita da maneira como ele fez, é
extremamente bacana pra gente estudar a história. É o que nós, historiadores, chamamos
de “dicotomia representativa” (EU CRIEI ESSE TERMO!), quando dois personagens
representam dois “modelos” reais da sociedade, ou “dois momentos” que convivem
numa mesma época, mas são opostos e por isso entram em “colisão”.
E essa colissão entre a “socieddae burguesa
pós-Revolução Industrial” e a “sociedade humana” definia bem o nascimento da
Idade Contemporânea que estamos estudando. Victor Hugo captou isso muito bem.
No Brasil, Álvares de Azevedo também captou. Mas cada um desses escritores se
posicionou de forma diferente.
E eu captei que é o momento de parar um pouco.
Logo retorno. Não chorem. Eu volto!!!!
BEIJOS DO GORDO!!!!
Professor o senhor poderia me passar o seu número para poder mandar as lições
ResponderExcluirOlá.
ResponderExcluirDesculpe a demora.
Meus contatos estão lá nas folhas de atividades, no Googke Drive da escola. Quando você vir a atividade, já dá pra ver as maneiras de me enviar.
Valeu?